quinta-feira, 29 de agosto de 2013



O que escrevi - e com muita esforço, li! - na missa de sétimo dia da minha vó. É exatamente assim que eu me sinto: com muita saudade, mas em paz porque toda a dor e sofrimento dela acabaram!


"Neste momento, em nossa Igreja, é quando, em comunidade, elevamos a Deus os nossos pedidos, rogando para que Ele nos atenda no nome de Jesus.
Mas hoje, eu quero começar fazendo diferente e louvando a Deus.
Louvo a Deus que permitiu a minha avó passar 83 anos na vida terrena e ter sido um exemplo de mãe, mesmo tendo sido criada sem uma desde os 9 meses de idade, como ela tantas vezes nos contou.
Louvo a Deus porque nós, filhos, netos e bisnetos durante nossos anos de vida, tivemos o privilégio de pedir a benção a vovó e, ela, na imensidão de seu amor, pediu que Deus nos abençoasse. “Deus Te abençoe, meu filho. Deus te abençoe, minha filha.”
Louvo a Deus porque na casa da vovó sempre teve um real. E 2, 5, 10, 20, 50... E que ela sempre distribuía com tanta generosidade pra “fazer um agradinho” como ela dizia ou perguntando “dá pro lanche?” ou, simplesmente, para ajudar mesmo. Vovó caridade. Vovó doação. Vovó amor.
Louvo a Deus que manteve vovó no hospital por 70 dias, para que ela não fosse arrancada de nós mas, ao contrário, deu a quem acolheu Sua misericórdia, tempo para se preparar para o momento da separação.
Louvo a Deus porque, apesar da nossa dor, como disse a Karine, Deus deu a graça a vovó de não ter que enterrar mais nenhum filho. E nós, que cremos em Jesus Cristo e vimos como vovó se transformou desde a perda da tia Déia, há 15 anos atrás, sabemos que isso é motivo de louvor.
Louvo a Deus, porque há pouco mais de um ano atrás, vovó perdeu uma grande amiga, D. Lydia e, desde então, ela dizia que que queria morrer como sua amiga. Para quem não sabe, D. Lydia dormiu e pela manhã foi encontrada falecida. Os médicos e enfermeiros do hospital onde vovó esteve internada disseram que ela teve uma morte serena, tranquila, sem sofrimentos e, por isso, eu te agradeço, Senhor.
Louvo a Deus, porque em seu momento de maior sofrimento, vovó teve tudo o que a fazia feliz e o que sempre quis: seus filhos e netos com ela diariamente.
Louvo a Deus, na certeza, de que Ele a recebeu de braços abertos no céu e que hoje, a minha avó descansa em paz, sem nenhuma dor no “jueio”, como ela dizia, sem nenhum sofrimento... Descanse em paz, minha vó e olhe por nós!
Através da Ana Paula, louvo a Deus por todos os vizinhos e amigos que estiveram sempre com ela e se uniram às nossas orações e a amaram.
Através da Gil, louvo pela vida de todos os sobrinhos de vovó que tanto amaram aquela que foi a última de sua geração.
Através da Tia Mara, incansável, mulher de Deus, assim como Rute, eu louvo por todos os genros e noras que fizeram o que achavam estar ao seu alcance. Tia, não à tôa, vovó te chamava de “filha”.
Através do Estevão, louvo por todos os bisnetos que estiveram com a senhora e que tiveram o privilégio que eu não tive que foi de conviver com uma bisa!
Através da Pabline e seu coração tão cheio de amor e doação, louvo pelos seus netos que estiveram presente, oraram e amaram, cada um à sua maneira.
Louvo pelo tio Bina, que doou tempo e horas de seu serviço para estar com a senhora.
Louvo pelo tio Aroldo, guerreiro incansável, que não importou o turno, o horário, quando e em que condições, esteve presente quando ninguém pode.
Louvo pelo tio Ceil, que com seus filhos, deixou sua casa por alguns dias para cuidar da vovó como ela cuidou dele.
Louvo pela vida da tia Nilza, que nos últimos quase 80 dias esteve mais em Vitória do que em Castelo e fez do hospital sua casa para que o restante da família descansasse, como ela mesmo dizia.
Louvo pela vida do tio André, tão avesso a hospitais, mas que se sustentou em pé e nos ajudou a cuidar de vovó.
Louvo pela vida da minha mãe, que na maior parte do tempo, esteve impossibilitada de estar no hospital. Mas Deus, em sua grande misericórdia, a sarou para que ela pudesse passar alguns dias com sua mãe, como passava todos os dias quando vovó estava em casa.
Louvo a Deus pela vida do tio Adilson, incansável e sempre presente, deixando de trabalhar para estar com vovó, pois como ele mesmo disse para minha mãe “se não tiver ninguém para ficar com mamãe, eu não vou deixá-la sozinha”. E foi com ele que eu presenciei a maior prova do amor imensurável de uma mãe por seus filhos, quando eu estava com vovó em um de seus dias agitados, em que ela não parava, se recusava a comer e não parou um segundo a ponto das enfermeiras ficarem com dó de mim... Quando tio Adilson chegou para trocar de turno comigo, imediatamente o rosto da vovó ficou sereno e ela se acalmou. E no dia seguinte, ele me mostrou uma foto do prato de comida dela quase vazio, porque com ele, ela tinha comido...
Louvo a Deus pela vida do tio Agostinho, que durante esse tempo – aliás, há mais de 15 anos! - cuida do vovô para nós como ninguém mais é capaz de cuidar. Obrigada, tio! O senhor é uma benção nas nossas vidas.
Louvo a Deus pela vida do meu avô. Quando vovó morreu, a maior preocupação da família era o senhor, mas, vô, que exemplo o senhor é para nós! Quando todos nós nos preocupávamos como faríamos para cuidar do senhor, foi o senhor quem nos deu colo e acalentou a gente! E foi o senhor, que nos deu o maior exemplo de força e fé – aquela mesma força e fé que vovó carregou durante toda sua vida – quando o senhor disse que “se Deus quis assim, que assim seja”. E o senhor prometeu a vovó que cuidaria de tudo e de todos se seus filhos estivessem juntos com o senhor. Então, fica forte, Toninho. Aguenta firme aí, porque nós todos estamos juntos com o senhor e o senhor tem uma família inteira de chorões para tomar conta.
E, mais do que tudo, eu louvo a Deus pela imensidão do amor, da generosidade, da caridade, da preocupação, do querer bem de minha vó para com todos. Não há quem, algum dia, tenha precisado da senhora que a senhora tenha se negado a ajudar. O seu legado é de um valor inestimável. O seu amor é um exemplo. Vó, obrigada por tanto amor!
Eu te louvo, Senhor, por tudo. Mas também quero te pedir! 
Envia teus anjos e teu Santo Espírito para nos sustentar e acalentar o nosso coração. Que nós, amigos, sobrinhos, noras, genros, netos, bisnetos, filhos e marido possamos sentir saudades, sim. Isso será inevitável. Mas ao invés de lágrimas, nossas saudades sejam cheias de sorrisos lembrando das histórias que tantas vezes ouvimos a vovó mesmo contar.
Em especial, peço pela minha mãe e meus tios. A ideia remota de perder a minha mãe já me dilacera o coração, então, eu consigo imaginar um pouquinho o que vocês estão passando. Então, minha prece maior é que, com a intercessão de vovó, o Senhor venha em socorro de minha mãe e meus tios, dando de volta a eles alegrias em suas rotinas diárias, sarando toda dor, levandos-os à águas tranquilas e refrigerando suas almas. Restitui, Senhor.
Recebe, Senhor, essa prece e as preces que estão em nossos corações. Por Jesus Cristo, Teu filho na unidade do Espírito Santo. Amém."